AQUÁRIO DE SERPENTES

(Lena Ferreira)

Andei desconstruindo celas

abrindo portas onde não tinha parede

destecendo redes de entranhas

desmembrando peles de intrigas

descascando as dores das feridas

Andei ralando a alma em precipicios

que desde o início seduziam-me ao salto

auto-mato, morre a fome de um grito

seco e cego; não atino o volume certo

Andei atirando a esmo, atinjindo galhos

grasnando em escolhas recolhidas pelo espaço

passando fome, comendo o pão que o diabo vomitou

não me rendi, não me entreguei, não me dosei

nunca mais me dosarei a quem não dosar de si

não em troca mas em troco; lucro farto e perto

Andei abrindo janelas em aquário de serpentes...