A NOITE E O VINHO

Depois do vinho

Quero o beijo,

O desejo , o prazer

E o sono da morte.

Depois do vinho,

Estarei sozinho.

Nada a perder,

Exceto um sonho torpe.

Sinto a letargia.

Trazendo os delírios

Que afastam minha dor.

Sem minha dor,

Em volta tudo é poesia.

Sou o semeador

Em campo de lírios.

Um perfume inebriante

E surge o deus do vinho.

Mostra algo adiante.

Num caminhar hesitante,

Pois difícil é o caminho,

Chego ao mar de sangue.

Nas ondas revoltas, redemoinho

Lá se vai o monstro marinho

Rumo ao vazio abissal

Oculto,

No fundo da taça de cristal.

De meu corpo dormente,

Pois o prazer adormece,

Sai o espírito inquieto.

E o desejo que ela viesse

Surge de repente,

Como o novo continente.

De onde ele veio,

Não sei ao certo.

O mundo diferente,

Que há anos tenho procurado.

Onde a vida é uma festa,

E onde serei rei, decerto.

Surge estranha multidão:

Deformados, rotos, mal-vestidos.

Pois de fato, é como são

Quando não estão

Sóbrios, belos e enrustidos.

Excitados e aos gritos

Bebem do vinho

Realizam ritos

Querem a energia

Que não existe no limbo,

morada de seus espíritos.

Gritos Por Dionísio

Para começar a orgia

Vou indo embora

Seguindo minhas próprias pegadas.

Assisto o nascer e morrer,

De um mundo novo, intocado

O mundo que há anos tenho procurado.

Vivendo a vida feliz, embriagada

Num mundo verde, desfigurado

Como se fosse visto

Pelo fundo da garrafa.

Logo, como a gota que se consome

A multidão solta também some.

Vem a ressaca

Como a queda

De uma grande estrela.

Seca e opaca,

Explode a dor de cabeça.

Foi-se do deus do vinho

E nem lhe disse

Como era bonito.

No silêncio opressor

Estou sozinho.

Nada a perder

Exceto um sonho torpe.

Não terei o beijo,

Desejo ou prazer,

Mas virá agora o sono da morte.