ANGÚSTIA SIDERAL

Gostaria de ser apenas verso

De tal modo que meus dilemas

Fossem só poemas no universo

Perdidos em fragmentos tão leves

De qualquer réquiem de cometas puros

Vagando, crescendo, surgindo

Em meio a vendavais nem tão seguros

Como os ventos de um dia lindo

Como os tempos de letras que são apenas

Rimas-áureas lutando contra a injustiça

De um mundo cretinamente mecenas

Sem fundo, sem voz que tanto enfeitiça

A monotonia cínica de tantas vidas sós...

Sim, gostaria de ser somente verso

Transcendendo qualquer matéria-vã

Qualquer molécula do meu inverso

Nesta existência nem sempre sã

Que se perde em rotas pouco leves

Como labirintos de letras e de estrelas

Imiscuídas em céus tão breves

E tão ofegantes por nunca vê-las

Voando, vivendo, vindo

Em meio aos furacões da angústia sideral

No seu inverno tenebroso, rindo

Do meio termo entre o bem e o mal

Do furacão perdido entre tudo e nada

Furacão chamado insônia...

Ah, gostaria de ser apenas o verso

De quem eu sou em doses de incongruência

Imiscuída no vão, vácuo disperso

O inverso do medo em toda a sua essência

Meu Deus, quando foi que eu acordei assim...

Foi na infância ? Na esperança da adolescência ?

Meu Deus, quando foi que eu me perdi de mim ?