As Flores que não lhe dei

As flores que não lhe dei

Me fazem lembrar você.

Nós tínhamos uma vida maravilhosa...

Como eu te amei!

Fazia qualquer coisa para te ver feliz;

Mas, um dia sai mais cedo do trabalho

Passei na floricultura e comprei-lhe

Essas flores, as flores que não lhe dei...

Entrei em casa pé ante pé, bem devagarinho...

Seria uma surpresa e tanto!

Coloquei as flores por trás de mim.

Tudo estava tão quieto...

Você não estava em casa. (Onde você estava?)

Pus as flores naquele vaso

Que você mesma escolheu.

Olhei os cômodos um a um...

Mas você realmente não estava, não havia um sinal, um bilhete...Nada. Onde será que você foi?

Uma ruga de preocupação se desenvolveu em minha face

E o meu coração acelerou.

- Onde diabos você se meteu?

- Com quem será que você estava?

- Por que saiu sem me avisar?

O tempo passou.

Os minutos pareciam horas

E as horas pareciam uma eternidade

- Você vai ver, quando chegar, ah, vai!

- Por que você fez isso comigo?

- Você me conhece bem, sabe do que eu não gosto.

De repente, um carro se aproxima

E pára em frente a nossa casa, mas a distância .

Não consigo ver quem estava com você

Mas sei que é homem, é um homem!

Abri uma pequena brecha na cortina,

O suficiente para não ser visto...

Você desceu do carro,

Sem dúvida não esperava por mim naquela hora

- Por que você fez isso comigo?

- O que foi que eu te fiz?

- Sempre lhe dei o melhor...

- Eu não merecia isso.

Senti meu corpo estremecer,

Um calor insuportável veio até minha face

Que se contorcia em ódio, desespero e dor

- Por que? Por que? Por que?

Vi quando o beijou, despediu-se

E veio em minha direção...

Se você soubesse o que lhe esperava...

Mas você, como se nada estivesse acontecendo

Veio calma e sorridente.

Insinuando-se com aquele andar

Fiquei atrás da porta a espera,

Minha cabeça parecia explodir...

- Como pôde fazer isso comigo?

E ainda trazia flores nas mãos...

Com certeza de um aproveitador, de um monstro.

- Como você pôde fazer isso comigo?

- Como pôde?

Por alguns segundos fiquei inconsciente

Nem percebi quando você abriu a porta,

Desferi-lhe um soco no rosto

E a vi tombar...

O sangue a escorrer-lhe da boca

Acentuava sua expressão de susto e pavor

Você ficou surpresa, não é mesmo?

Afinal o que eu poderia estar fazendo em casa, aquela hora?

Você não contava com isso!

Sei que você não contava.

- Como pôde fazer isso comigo?

Tantos anos dedicados a você,

Quantas coisas perdi por sua causa...

Com tremenda violência chutei seu ventre...

Você se esforçava por falar,

Na certa havia uma explicação para tudo.

Mas eu não quis ouvir, não quis!

Levantei-a pelos cabelos,

Apertei-lhe o pescoço, mais socos, mais socos

Até que meus punhos, cerrados começaram a sangrar também, vi meu sangue se misturando ao seu.

Você caiu quase desacordada...

Foi então que eu peguei o vaso, com as flores, as flores

Que não lhe dei,

E bati duas, três, quatro, seis vezes com ele

Na sua cabeça

(Eu nunca gostei daquele vaso mesmo)

Lembrei-me de quando você tentou falar

- Mas eu não quis ouvir, não quis ouvir nada.

- Por que não a ouvi meu Deus? Por que não a ouvi??

Era seu irmão no carro novo, por isso não o reconheci,

As flores eram pra mim, era uma surpresa

Você ia me contar da gravidez... Era uma surpresa,

Uma surpresa para mim.

Como eu poderia saber?

Quando vi você naquela roupa, descendo do carro, beijando-o ... Cheguei a imaginar a cena: vocês dois juntos... Oh, meu Deus? Como poderia imaginar que... Como poderia saber?

E agora? Como irei viver sem você

Como irei viver Aqui?

Eu pensei que nunca nos separaríamos,

E agora não posso se quer, ver você

E as flores que não lhe dei, ainda estão comigo

E eu não posso levá-las pra você

Mas creio que você esteja bem melhor que eu.

As flores que não lhe dei,

Não estão mais no vaso

- Por que não esperei você falar?

Agora você está morta, (morta?) enterrada...

E eu estou aqui vivo, (vivo?) mas em prisão perpétua,

E nem assim posso lhe dar as flores

As flores que não lhe dei

Estão como você

Morreram em minhas mãos.

Nicolas Marques
Enviado por Nicolas Marques em 16/01/2007
Reeditado em 17/01/2007
Código do texto: T349325