Morta dentro de ti

O que mais me restou

Depois daquele dia?

Nem sequer cheguei aqui

Não despi a fantasia

Me cubro de letras

Para espantar o frio, vazio

Das horas em que não sou

Dos minutos que não vou

O que mais sobrou

Depois daquele dia?

Lembranças, restos de que?

Letras me aquecem

São amigas de fato

Nada mais eu tenho

Nem sequer um retrato

Dos gemidos tão reais

Da cor dos lençóis

Dos travesseiros caídos

Por isso escrevo tanto

Por isso aqui sempre venho

Para espantar esse medo

De não ter enredo

De não saber mais beijar

Diga que me engano

Que meu beijo é real

Que deixei marca no sal

Da saliva que guardou

Mente que ainda sente

Meu cheiro em teu cabelo

Minhas mãos na tua boca

Diga que sou louca

Que minha voz é rouca

Que caminho nas nuvens

Quero ouvir o som motivo

Da tua voz de menino

Que mente em desatino

Só pra me ver sorrir

Diga que minhas letras são tortas

Mas do que importa

Se te fazem tão bem

Quero ouvir da boca tua

A doce mentira

Que sou a atriz preferida

Que pisou no palco louco

Enfeitiçando tua vida

Que sou assim

Uma figura irreal

Um desenho sem igual

Que você viu em algum lugar

Algo que aconteceu

Entre você e eu

E que jamais sobreviverá

Uma constante tormenta

Onde não vale a pena voltar

Me afogue nesse mar

De onde não quero sair

Só assim vou viver

Morta dentro de ti

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 22/04/2012
Reeditado em 23/04/2012
Código do texto: T3626934