Estorvo

Meu lado esquerdo tem a minha parte inteira

Então sou metade de uma parte da vida

Sem rumo, porta ou janela, aquarela

Que ninguém pintou por falta de tinta

A tinta preta, ausência permanente de cor

Siga em frente e não me veja, nem olhe ao redor

Não sou nada além de uma brisa que passou

A água que se foi rio abaixo e nunca mais voltou

Com a qual você lavou seu corpo e se banhou

Eu e nada somos irmãs na madrugada adormecida

Quase gêmeas nas pobres noites de pesadelo

Não tenho graça ou desfecho que possa interessar

Folhas abarrotadas de rabiscos inúteis, sem nexo

Complexo de desertos perdidos e sem sabor

Adorno sem propósito, sem lugar, sem preço

Digitais de um alguém que nunca amou

Se ainda assim alguma consideração mereço

Não me conte com o que você sonhou

Rasgue as lembranças onde eu apareço

Nem me diga aonde é que eu estou...

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 18/06/2012
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