Cidade Santa

Deram-me pátria

- este chão cravejado de cicatrizes sujas.

Arrendaram-me paz

- este deserto branco coberto de pústulas.

Vestiram-me ilusão

- esta pele esticada e partida de sol.

Venderam-me esperança

- mas não pude pagar.

E por isso hoje

me tomam

me roubam

me desnudam

me abandonam

- à própria sorte!

Devedora incorrigível,

lugar sagrado da promessa dos tempos,

estou acordada.

Em vigilância de dor.

Fontes de anjos vomitando mentiras.

Coros infantis mastigando as carnes.

Demônios castrados torturando os desejos.

- Olhem, olhem o que fizeram de mim!

Para sempre estática,

em dores de parto,

dei a luz à miséria.

Sou o trono de Deus.

A Cidade Santa.

Sou Jerusalém

- viva, rendida e cativa.