ESTÁTUAS DE SAL
Quem de si sabe algo na longa viagem para que possa,
Em algum ponto qualquer, parar e contemplar as férteis terras,
E nelas lançar, com alguma razoabilidade, sementes que possam
Florescer sob as sombras invisíveis de olhares suspeitos?
E quem pode fazer alguma morada sem medo do forte vento,
Que sopra indigente por todo lado como que a penetrar a alma,
Em belos e altivos terrenos, promissores de alguma contemplação
De um sonho qualquer, mas solidificados em seus próprios egos?
As águas, ensangüentadas, teimam em espelhar paradoxalmente,
Com a pálida luz que as toca, ao mesmo que a oferece de beber,
Como fonte pura, sibilando na volúpia dos enlaces,
E no matrimônio das frágeis e indigentes imaginações dos viajantes.
Fora todos vêem santuários de amores pré-definidos,
Em meio a magníficas sinfonias sem notas musicais,
Ritmando o compasso da vida travestida em prata,
E perpetuada no dourado do sempre porvir.
Estranha e trágica cena.
Dentro não podem ver que, da estátua posta entre alvos lírios,
Sobre a grama orvalhada, há açoites severos contra a própria face,
E há delírios dilacerantes que ecoam no íntimo do ser,
Perpetuando em sussurros que não se podem ouvir nem sentir.
Péricles Alves de Oliveira