PODERIA

Poderia dizer dos segredos escondidos num canto escuro ou sob um lençol qualquer,
dos mundos que se escondem em tantas máscaras, durante grandes espetáculos,
e antever o severo castigo à pretensão de um porvir onde se possam reter delicados feixes de luz,
antes que, novamente, seja feito o contato vulnerável com os mesmos caminhos que deságuam em nada.

Poderia dizer dos sonhos que em mim quebrei alimentando presas férteis,
do meu triste canto, violado, que protesta em sinfonias mudas,
das lembranças que escorrem transbordando a grande ponte,
das lágrimas de cristais invisíveis que, após preencherem brancas nuvens,
e caírem como ácido pelas minhas desertas estradas, envenenaram a sede insaciável dos que me habitam.

Poderia eu omitir minhas jornadas por veredas estranhas e incompreensíveis,
e, sob a escolta de tantas orações proferidas, fingir não ver a porta errada.
Num esforço indigente tirar-me o rosto, arrebentar todas as correntes,
e deixar ecoar em mim, aos raios de um falso e magnífico alvorecer,
somente as doces palavras que tocariam meu corpo e emudeceriam minha dor.

Poderia tudo, belo ator que sou, em efemeridades de sonhos sem aprimoramento.
Mas queria mesmo é poder transpor mais do que o pensamento e a alma,
numa devastadora revolução de águas límpidas e desconhecidas a me romperem,
em noite fria, emudecendo meus fantasmas e, de mim, a voz do cão que ladra.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 15/11/2012
Reeditado em 15/11/2012
Código do texto: T3987770
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