NUDEZ

Choveu o céu cristais de gelo nunca antes vistos

quando a grande angústia alcançou nuvens horizontais

que pairavam escondendo, em sua moldura azul,

todo o infinito condenado em suas estranhas frialdades.

Desnudou-se-me a imensidade em vultos frios e mortais.

E da terra umedecida pela chuva abismal percebi

que minhas frágeis asas, oníricas e desvairadas,

convergiam-se em um manto estranho e mortal para, depois,

desaparecerem-se com a minha nudez tantas vezes escondida.

Vi-me então como jamais antes me fora visto de meus esconderijos.

E grande temor se me apossou com as muralhas destruídas

que tantas vezes abrigaram mundos em atuações incompreendidas.

Foi então que percebi que o céu, e o além- dele, e o tudo que há

nada mais fora ou venha a ser que o nada que me habita em imagens falsificadas.

Desnudei-me enfim e, no cansaço e dor extrema da queda fatídica,

vieram beber de minhas entranhas expostas todos os anjos mascarados de alvo branco,

e todos os demônios assumidos em seus delírios, e todos os demais seres bizarros

na multidão ainda de mim desconhecida, deixando-me espalhado macabramente,

sem essência alguma, numa fina névoa de poeira, sombriamente oculta em teus semblantes.


Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 20/12/2012
Reeditado em 20/12/2012
Código do texto: T4045598
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