A minha ferida

Nem cicatriz eu quero

Quero vê-la sangrar de vez em quando

Quero a dor do ter vivido

Quero sentir saudade eterna

Quero a agulhada do momento latejando

Quero o inferno da vontade chegando

Uma cicatriz inacabada

Uma ferida sem cura

Uma cura sem remédio

É assim que eu quero

Quero sentir a febre chegando

O calafrio de ter partido

A despedida sem palavras

O dito escondido embaixo do olhar

O toque não consumado

O gesto inacabado

O abraço sem braços, sem mãos

O deslocar do sentimento

O absurdo da demora

O gotejar do pranto que inunda

A pele arranhada pelas lembranças

Quero a agonia de saber que posso

O infindável caminhar para o abismo

O sacrifício de emudecer

A coragem de escrever

É assim que quero...

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 25/01/2013
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