VOANDO SOBRE A BABILÔNIA


Vamos, subamos
Um pouco mais de força
Um pouco mais de pique
Agora sim, decolamos
Estamos voando
Num bate braços e pés
Voando cada vez mais alto
Cada vez mais distante
E ficamos cada vez mais leves
Cada vez mais livres
Achando engraçada
A diminuição progressiva
Dos objetos lá em baixo.

O medo repentino
De uma queda provável
Por perda de altura
Impõe novo bate braços
Novo bate pés
E novamente elevados
Transfigurados
Eu sou mais eu
Você mais você
Somos os maiores
Super não sei o quê.

Sobrevoamos agora
Os jardins suspensos
Da Babilônia
E sobre flores multicores
Fazemos amor
Flutuando
Sob as vistas de Cyro
O imperador
E seu exército fiel
Que lá de baixo
Atira lanças
Para conter a audácia
De tão estranhos deuses
Enviados não se sabe de onde
Para corromper
A civilização persa.


Morro de São Paulo, 1981