DEVANEIOS:

No inicio era apenas uma vontade,

Uma ilusão,

Sonho inalcançável,

Uma imagem difusa,

Um querer sem razão,

Ela sempre passava naquela rua estreita,

Por entre sombras,

Seu perfume de alfazema preenchia o espaço a volta,

Eu, apenas observava,

Por horas, dias, meses,

A rotina deixava-me exausto,

Queria mudar o rumo dos acontecimentos,

Impotente, diante do destino,

Invisível, transparente,

Apenas um olhar, quem sabe,

Tudo seria diferente,

Helena,

Viajava, criava tempos, lugares,

Anfiteatros imensos,

Sons, danças, ninfas todas em vestes coloridas,

Helena descendo ao chão dos braços dos eunucos musculosos,

Sua tiara sobre os cabelos da cor do trigo maduro faiscava ao reflexo do astro rei,

Seus olhos da cor da safira fitavam-me com sarcasmo,

Suas roupas de tecido sedoso acariciava aquele corpo perfeito,

Causando-me inveja,

Em seus lábios pequenos, vermelhos,

Sentia o sabor do néctar,

Que nunca sorveria,

Os Deuses do Olimpo zombavam de mim,

As lagrimas quentes, queimavam-me a face,

De repente, um clarão cegou-me,

A tempestade desabou furiosamente,

O vento balançou a cortina,

A janela bateu com estrondo,

Acordei todo suado;

No ponto do ônibus, o empurra , empurra, começara,

La vai Eu,

A realidade voltara,

--Bom dia Helena! O dia hoje vai ser puxado...

(Valmirolino).