ELA VOLTOU

Quem te levou ao encanto?

E se encantada, quem te encantou, fazendo-te efêmera na tua singela passagem pelos lagos e rios do desespero, intrépidas e vorazes almas ciprestes, cimérios sorrisos das vozes tristes, rútilas flores negras que agruram meu coração?

Ouvi teu ruído e corri a te encontrar.

Mas eram os pombos na esquina da saudade.

Ciliciando-me, escondi tuas vestes brancas em ataúdes e ansiei tua volta e enquanto não voltavas, chorei.

Andei pelas ruas lânguidas e a noite punha sobre o rosto como véu as estrelas.

Não via tua face que ela escondeu.

Estava triste a tristeza, de morrer de desgosto, e de tanto espanto, procurei outro amor.

A janela, os pássaros cantando, a neblina – ou a brisa? – negava-me o teu existir.

Já não era pouco, e o pouco menos pouco, que todo o Infinito de cores chamava a madrugada, contava-lhe seus segredos, prometia ao alvorecer...

E perturbava as auroras.

Os dias? Eu os atormentei.

Mas amei todos os crepúsculos, e esperava as estrelas, perguntando em oculto: “Quem de mim a levou?”

Senti então o eflúvio das flores, e o aroma dos túmulos, e o tumultuado frescor das imagens, e do silêncio do ermo, e da dor.

Fui fugindo para o pó da vida, – ou da morte! – minha mente já não tinha a escultura de um sonhador!

Nos meus sonhos destruí meu último poema, mas o encanto de quem te fascinou, foi vagando pelo orvalho alado, perscrutando as veias dos velhos, desenterrando-os e destruindo as lápides, quebrando os epitáfios e chamando e gritando: “Vem surgindo rumores de malícia, sob o vento num sopro de ventre cansado, de irmã vestida de seda, toda mirra, toda pura, em brancuras de neves, de nuvens, e de fervilhar coração de menina carmesim”.

Ah! deixa-me novamente a saudade, menina, mas não por muito tempo, ou morro de amor.

Menina efêmera que me envolve num só encanto, ó mulher que dos sonhos desabrochou!

Eu te tomo em silêncio, te possuo em silêncio, e digo a mim mesmo: “Ela voltou”.

jairomellis
Enviado por jairomellis em 23/03/2007
Código do texto: T423045
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