ÁGUAS PROFUNDAS
Quando as vozes se deitam ao relento,
Quando de silêncio se fartam as sombras,
Os olhos da Lua desvanecem o pensamento,
E o pensamento reaparece como orvalho de sonho!
Longe das fantasias sensoriais da realidade,
Margeio de perto os litorais da eternidade;
Da vida retorno à fonte;
Da morte me torno o inverso!
Bebo do meu próprio vinho;
Como do meu próprio fruto;
Dentro do corpo, sou nada;
Dentro do sonho, sou tudo!
Mergulhado em águas profundas, tive de escolher
Entre vir à luz, ou ficar na noite dos tempos;
Vindo à tona, tive de vencer
As ondas de vento do mar agitado!
O sonho me concebeu como um rio sem margens,
Nascido das lágrimas doces dos olhos da Lua;
Deixo, então, que a poesia versifique o existente,
E o sonho realize o inexistente!