Quem sabe um dia!
Quem sabe um dia
Eu me torne um cafajeste
Um ser desprezível e sem escrúpulo
Cheio de mim e arrogante
Quem sabe eu ande a ermo, estúpido
Numa estrada sombria
E sem companhia
Eu me sinta o maior dos errantes
Quem sabe um dia
Eu sinta o desprazer de ter sido bom
Eu deseje o avesso
E admire a péssima sonoridade de um tom
Elogie a tristeza do fim ao começo
E a melancolia me seja algo bom
E sem alegria
Eu deseje um céu escuro e marrom
Quem sabe um dia
Eu não queira a sorte
E meu paladar seja um suave fel
E melhor e mais amargo e forte
Seja o dissabor da morte
E deseje o hades ao próprio céu
E adore a injustiça
Numa burca negra coberto de véu
Quem sabe um dia
Eu anseie a guerra
E a balança torpe
E o calor da terra
E a fome em peste
Seja o meu desejo
Mendigar num agreste
Sem ter lugarejo
Num eterno despejo
Dessa vida terrestre...
Quem sabe um dia!