TENTAÇÃO

Anjo da luz, eu tento subir ao Céu,

Perco-me, contudo, entre as lufadas da tormenta,

Torno-me ferro estígio,

E qual fera sedenta

Sugo a própria alma no leito do rio;

Da luz, não resta sequer um vestígio,

E do devaneio feliz de me elevar ao Céu

Resta só mágoa no meu sentimento sombrio!

Anjo das trevas, eu tento descer ao Inferno,

Rendo-me, contudo, aos verdes olhos da esperança,

Torno-me sonho de pomareiro,

E qual contente criança

Germino risonho entre as palmeiras;

Das trevas, brota um amplo luzeiro,

E da mágoa pungente que me lança ao Inferno

Brota no meu sentimento um campo de videiras!

Simples mortal, eu tento andar sobre a água do Estige,

Afogo-me, contudo, nessa água avernal que me leva

A duvidar da possibilidade de pacificamente coexistir

Com o mundo que eu e minha alma elegemos nosso lar:

A realidade que nasceria do sonho que me enleva,

E que ainda não tive a alegria, nem a sorte, de realizar!

Será a morte que, dessa culpa, um dia há de me redimir,

Ou ainda terei da vida a vida que minha alma me exige?

Carlos Henrique Pereira Maia
Enviado por Carlos Henrique Pereira Maia em 08/06/2013
Reeditado em 08/06/2013
Código do texto: T4331310
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