P.A.U (Partido do Amor Universal)
Abro a janela
-talvez os últimos passarinhos
debandam com o susto-
e sinto um cheiro acre
que vem de fora
alcança minhas narinas
fere meu olfato
atinge meus pulmões
e ganha a atmosfera
num calor de quarenta graus.
É o mundo apodrecendo afinal.
É a sujeira dos órgãos
dos cargos.
Dos vilões que andam à solta por aí.
São os homens com seus exércitos de destruição.
É o egoísmo do humano
pondo fim a tudo o que toca
vê e quer possuir
a qualquer preço
assim como foi com os indígenas
e suas matas
com os africanos e a sua cor.
É a pobreza da Ásia que o vento sopra
aos quatro cantos do mundo
espalhando o som de ranger de dentes
como se fossem as portas do inferno
que se abriram
impulsionadas pela fome e dor.
É o russo decidindo nossos destinos
infernizando nossas vidas
minando nosso solo
empobrecendo nosso já precário mar.
É essa maldita guerra fria
que de tão fria
pode um dia virar pó.
É Irã, Iraque, Israel
num barulho ensurdecedor
tirando nosso sono
vida de inocentes
velhos, moços e crianças
mandando pássaros para o chão
e mísseis para o ar
sem haver sossego nunca
como se num gesto de misericórdia
matassem a rajadas
para que a fome não mate ninguém.
É o antigo europeu
no seu velho mundo
a bordo de seus castelos medievais
imponentes
entre pratas, faisões e vinhos
na maior aristocracia
enquanto que nos arredores
o povo moribundo apodrece
a exemplo do que acontecia
em suas masmorras
mas o cálice continua imprescindível.
É o tio Sam com sua arrogância
insolente e pretensioso
como se fosse dono do mundo
controlando o ocidente
também minando tudo
também matando gente
investindo em arsenais
como se comêssemos pólvora
e em meio a tanta força
pregando a democracia
-só pode ser ironia-
no seu capitalismo absurdo
num verdadeiro salve-se quem puder.
É esse americano que cria super-heróis
trazendo de Crypton o superman
e da burguesia a dupla dinâmica
tanta imaginação
para combater o criminoso comum
quando o crime do Estado
ninguém se atreve a mostrar.
É esse americano mercenário
que intitula de patriotismo
o ato de comercializar armas
demonstradas em combates sangrentos
que acabam por trucidar seus operadores
e a cada estrondo da bazuca
foi mais um vilarejo para o espaço
mais cotado torna-se o dólar
mais distantes da paz estamos
viver menos vivemos
e continuam os canhões em nome da paz
e que se dane o povo latino
com seus líderes ditadores
herança do coronelismo
por detrás de medalhas
armados até os dentes
meros capatazes dos interesses estrangeiros
matando a míngua
a quem preferir se calar
e torturado
quem quiser se meter a herói.
É o mundo ruindo sob meus pés
numa trajetória milenar
sem que as nações se entendam
com seus mais de dois mil anos de história
desde que seu mais importante personagem
-homem, santo ou mártir-
que só pregou o amor
como agitador morreu numa cruz
e de lá para cá morreram tantos
calaram Gandhi's
silenciaram Lennon's
e o amor não triunfará.
E a justiça, onde andará?
Nossa sina era essa
eles não sabiam
e o mundo apodreceu.