SILÊNCIO

Nascemos do silêncio. Duramente

A porta da dor nos nasce um dia;

Agudo vento de nostalgia

Sopra no mundo a notícia.

Há um silêncio como um poço,

Como um poço de águas amarelentas,

Aonde gritamos a primeira

Torpe palavra que aprendemos.

Há um caminho largo e triste

Que nos resseca a saliva,

Que nos empurra rudemente

Atráves de um deserto sem oásis;

Há um silêncio aonde não

Cresce a fonte nem a espiga.

Alguma vêz desamarramos

Nossa canôa do cais

E a levamos rio abaixo

Até a ponte onde, antiga

Se nos desnuda a palavra

De sua torpeza corrompida.

Alguma tarde passeamos

A alma perdida, repartida

Entre as doces, duras coisas

Que nos envolvem e seduzem.

"_ É que não há lírios, altas aves

Que nos fechem a grande ferida."

Cala o poente como um menino

Que todavia adormecera.

A videira da recordação

Nos entreabre azul carícias,

Enquanto por cima das coisas

A brisa do vento silva.

Cheios de silêncio nós ficamos

Juntos a qualquer amanhecer,

Sôbre qualquer tôrre de musgos

Abaixo de qualquer raiz de árvore

Enquanto a morte, como um cão,

Se nos chega aos pés, vencida.

Somos SILÊNCIO. . . . E o SILÊNCIO,

Nos amortalha o sorriso.

2007/04/13