Ata-me

Fico tonta quando respiro o cheiro do futuro

Quando este futuro já é presente rasgo meu pudor

Tento não entender o que me deixa rota

O que me deixa atônita, estranhamente atômica

Não quero decifrar nenhum mistério enterrado

Nenhuma senha lacônica e solitária me quer

Busco nem tentar me vestir com tuas dúvidas

Embaralho as cartas que ficam sob a mesa uma a uma

Sigo a seta sabendo o que tem dentro do minuto seguinte

Guardo o caroço da fruta que não têm sementes, dentes

Como verde a casa da árvore que o fruto não se deu

Quero só o sabor do momento em que te desnudas

Gosto de sentir teu calafrio de prazer tentando negar tudo

Enveneno o último gole da mentira que tenta enganar

Colho o gosto que exala de teus olhos depois que me tocas

Prefiro o fechar dos teus olhos nos meus olhos abertos

Agora, neste exato momento em que escrevo sou tua

Ata-me.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 01/10/2013
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