Agonia do mar
Água do grande mar, por onde me queres arrastar?
- Mar que brota e desaparece em solos diferentes
E que neste continente quer agora me deixar...
É treva. E tudo é treva.
Sob o admirável céu azul lamenta numa melancólica
Cachaceira de ansiedade poluída. É treva e tudo é treva.
Um aceiro de escuridão, funesto espectro, abarrota
De escuridão de tão espaçosa a alma do mar,
Como fossem negras cachaceiras e cascatas.
Água da cor noite, negra e viscosa, sufoca de ansiedade
Os elevados cumes de minha alma cansada. De súbito
O óleo das cachaceiras angaria em apinhado fulgor cintilante,
É um espanto. E num instante o oceano resplandece em brilho
Incalculáveis, habitações, castelos e estradas.
Estradas, caminhos, por onde os animais extintos sapateiam
Nos espigões arrogantes donde pulam os animais
E os justiceiros descuidos imaturos, em cantigas, em encanto,
Em afazeres de afirmação.
Brilho e prestígio. Grandes cidades... É a confusa forma
Do homem desmoralizada na vida que brame e se triunfa.
E se proclama e se adultera e se dissimula. E fascina.
Mas é apenas um instante. Logo o mar enegrece outra vez.
Fica escuro. As águas poluídas e aflitas se abrandam
Num lamento. Fina flor. Amargura que marca uma estrada
Em destruição. É escuridão. E tudo é escuro. E minha alma
Destruída. É uma voz de bactérias venenosas pela treva
Profunda e afetuosa. Meu mar, meu oceano, por que queres
Deixar-me nesse mundo “desertificado?”
Pungentes os homens que sujam o fluxo das cachaceiras
E te separas de mim a introduzir-te no terreno esponjoso,
Por onde me queres arrastar? Por que não me permites litorais,
Por que não permites a glória dos aguaceiros permanente
E as gentis poesias que falam em adeus e não mais retornam?
Mar que inventa clima, terriços do chão, oririgário da terra,
Desvirtuo-me na tua obstinação no solo do planeta
Para as borrascas sentimentais da existência, praia, mar!
Tudo que preciso é viver.