Sorrir o espanto

Tudo o que não verde folha, pedra.

Tem que chover no peito o pensamento,

Para ventar as palavras entulhadas

Nas calhas do destino rocha.

Se a tudo fica rio e vai para o mar,

Aí então a vida passarinho calma.

Não olhos em areia movediça,

Para não cegar as plantas.

Há que se ouvir palmeiras na praia, sem grilos;

Calado de água salgada,

Trêmula, vacilante e sem trégua.

Nas veias do mar há sague frio;

Dentro da gente, tubarões sonoros

Pairando por sobre o relógio quebrado.

Vestido de horas em tempo vadio,

Levanto galo e preguiça perdido em sono;

Ando às tartarugas marinhas afoitas,

Que, desesperadas, procuram abrigo

Fugindo da praia campo de batalha.

Existem árvores sorrindo folhas secas

Dizendo-me coisas como seivas elaboradas,

Mostrando-me o outono na alma que se decanta.

Por isso não sei ficar onça a vida toda,

Pois assim se perderia a foca doce e meiga

Que busca o etéreo para o meu ser.

Se você cicloneia em rodopiar mágoas,

Nunca mais vai beber na brisa calmaria,

Nem haverá de sossegar absoluto,

O paraíso da pele sedenta de luz do sol.

Carlinhos Matogrosso

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 06/12/2013
Reeditado em 06/12/2013
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