Curral do etéreo mundo

Da sequidão astral do meu pó

Jorra um sangue azedo e sem cor.

Que rancorosa res sou eu que

Espero depressiva no matadouro

Enquanto assassino sem pena

Outros incautos e inocentes bichos?

Desde que vi a ofuscante luz materna

Que os vermes imundos e sedentos

Querem comer a minha carne.

Guerras e rumores de guerras;

Refregas violentas e sem trégua,

Do fundo das células vivas

Ao grosso da carne quente e crua.

Pensamento é mola traiçoeira;

Que salta louca e desvairada,

Cegando minha alma de razão e dor;

Saber que também serei alimento

Para satisfazer a sede etérea

De falsos deuses desencarnados e cruéis...

Por não perder-me, transformar-me-ei

Em tudo o que haverá de ser vivo.

Enquanto me debato em desespero,

Garras agudas, caninos famintos,

Olhos atentos me espreitam do nada;

As coisas que não vejo movem-se

Superando em milhões de vezes

As coisas que estão presentes

Em minha assustada e estarrecida visão.

Eu penso estar no controle das ações,

Mas até a minha ração é controlada;

Engordam o meu espírito para comer

Nos finais de insanos e malditos ciclos.

Não sei mais a que a minha paz pertence;

Porém, agarro-me com unhas e dentes

Nessa vida, equação matemática;

De um grau irrelevante e sem nome.

Carlinhos Matogrosso

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 14/12/2013
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