Poesia nua

Despe esse manto.
Retire essas estrela pranteadas.
E prateadas.
E, abandone
esse veludo sangrento,

Pois a lágrima escorre
em semânticas.

Despe essas palavras
da fonética
E agrega o silêncio
como métrica ou rima.

Despe essa cerimônia pomposa
dos pronomes de tratamento,
dos apostos
e, fique apenas com o outro
que nunca será seu.

Outro tempo que não é
presente.
Outro espaço que não é
aqui.

Outra razão que não
é outrora e nem aurora.

Outra divisão que é
una e transcendente
de lirismo,
de lembranças
não registradas em flashes
não emolduradas sobre a mesa
não expostas na vitrine
da curiosidade.

Despe essa farda.
De guerreiro cansado.
Pois a guerra nunca é finda.

E pior:
O vencedor é vencido.
E o vencido é o herói
Que honrou nossa memória
E fincou-se sob a lápide.

Ele foi mais bravo.
Ele foi mais decente.
E abdicou de ser sobrevivente.
E partilhar os ganhos da guerra.

Despe seu traje
de princesa ou pitonisa
Que não conheceu castelo
e nem jóias
Que não adivinhou
sobre o amor ou romance.
Que não teve nem princípio
e nem fim.

Despe essa auréola
Que tanto sacraliza o carnal
E canibaliza o sacro.

Onde os pecados e os mistérios
se misturam e a lua
já fora pisada pelo humano,
fincaram-lhe ainda a bandeira que
não tremula.

Despe desse olhar inquisidor.
Esse mar de dúvidas.
De exatas incertezas.
Que nos afoga
e nos afaga
Nutindo-nos da pura poesia.
Paradoxalmente pendurada
no orvalho
de uma flor em botão.

Ou no canto do sabiá,
presente ainda na brisa.
Que igual a poesia pura
Passa incólume mas
tatua sinistra a sorte
da nudez crua.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 14/12/2013
Reeditado em 14/12/2013
Código do texto: T4612030
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.