Divagação
Ficando a ver navios
Na podridão
O rato sujo do porão
O caviar enlatado
No submundo
Sombrio mundo
A grandeza do absurdo
Algo assim, taciturno
Você era, vôo noturno
Você é, na noite sombria
Sombrios olhos
Ternura, sutil revelação
Loucura
Feliz, má decepção
Cheia de cismas
Coloridos prismas
Do nosso universo
Pequeno, inverso
Tão sublime e obsceno
Seu vôo rasante
Por um instante
Insisti no que fazia
E nada do que via
Era verdade
Só a ilusão
Da devassidão
Maldade
Singela beldade
Desprezo
Demônio cruel
Parei na Cumel*
E tomei a cachaça da minha desgraça
Era fel
Lábios e o tropel
Do cavalo alado
Que cavalgando me levou para o céu.
CARLOS CRUZ - 1988
* "Cumel" é o nome de uma barraca tradicional, encontrada na Exposição Agropecuária realizada uma vez por ano em Barra do Piraí/RJ, que vende uma mistura de cachaça com mel, por sinal muito boa, mas que dá um porre daqueles...