F U I ...

j.Torquato

- BOM DIA

- Bom diaaaa

Eu sabia que era uma formiga, e que formigas não davam “bom dias”

Mas até portão de cemitério já falou comigo, ligue não.

Cuspí areia da calçada, mas a boca seca não deixou sair o cuspe, só a areia.

Meu rosto ardia sob o sol na calçada de cimento, tem nada não.

Pulei no sol e me esquentei por completo

Nadei no Sol até me queimar.

Voltei no varal para puxar um vento e me enxugar do sol,

Tem nada não

Largatas ardem mas não falam, ou falam:

Rastejando ela disse que os humanos eram muito mais rastejantes, imundos.

Ela me disse isso? Aquele bicho com cornos na cabeça?

Mandou-me procurar a mim e parar de rastejar no álcool e na vida.

Olhei boquiaberto para aquela figurinha sem vergonha.

- Voce se acha NE? Um bebum de ressaca já se perguntou se nós bebemos?

- Você já se perguntou se nós planejamos matar, roubar e enganar nossos semelhantes?

Eu fiquei abilolado, deitado de lado, vendo a lama macia em que passei a noite

Na lama de repente o raio lunar se fez espelho e a lua apareceu.

Ri do riso dos mortos que na sabedoria recém-adquirida não a pode usar

Passei, passou, fostes, fui, fomos, já vou.

Uma buzina se espalhou e eu me acordei, me levantei da lama macia com sacrifício

Um bode me ajudou dando uma cabeçada na minha bunda.

Agradeci a todos e sai voando para o meu céu interior

Parado no meu ponto de bus, esperando a morte chegar para subir e ir-me.

Dei adeus da janela sob o ronco do motor. Aplausos.

FUI.