TRAVESSIA DO RIO AQUERONTE
V
O Dorsariman se aproxima
Humanitas de um rio vê neblina
Serpeando as fraudas do monte
Aqueronte assim e chamado
O rio amaldiçoado
Guardado por Caronte
As almas amontoadas a beira
Cobrem a enorme ladeira
Que nos separa da margem
Por elas passamos cuidosos
Entre gritos lamuriosos
Dos negros selvagens
As águas de perto olhamos
Multidão se estava afogando
Em lodo podre gelado
O espetáculo e medonho sombrio
Da água desliza ao fio
Caronte – em seu barco postado
-Ai de vos condenadas
Sua voz com a mao levantada
Indica ao escuro rebanho
Dante o passo aperta
E a passagem se faz aberta
Na barca já eu vou entrando
Alto la- brada Caronte
Não vai atravessar Aqueronte
Tu – impura alma viva
Dante acode – A passagem e patente
Ponha-se em lugar obediente
A nos e dada outra riva
Dito assim o barqueiro recua
A hedionda figura nua
E negra como o inferno
Com os olhos rubros de sangue
As almas se estorcendo no mangue
Atravessamos ao outro terreno
De Dorsariman ao limiar
Desembarcamos sem atrasar
Junto aos outros condenados
Humanitas olha acima
O monte envolto em neblina
Em gritos de dor tomado
Almas seguem enfileiradas
Por caminho de pedras arrastadas
Algemas pesadas nos braços
De nos vem se acercando
Por condenados também nos tomando
Os algozes de olhos amargos
Dante de pronto os afugenta
-Afastai almas violentas
Que da luz não tereis migalhas
Vibrando sua mao luzente
A passagem se faz patente
Do lado as feras olhavam