Anjo barroco

Anjo barroco

E onde guardar esta coragem incansável

que raspa repetidamente a pele dos internos veios

como escultor meticuloso, em busca doutro tom

quiçá mais claro, ou mais negro

na madeira lisa, que escorre grumos

ao cair em círculos...

pelo chão.

E onde guardar tamanha coragem

ao ver-se ser noutra imagem que não a sua

embora toda esta clareza já nua,

da mão do artista brota

em cachoeira voraz

pelos vãos!

E como amadurecer a coragem

que por tantos veios já se fez passagem

levando todo o tronco duma árvore

redesenhando anjos que nem vi...

pelos dias.

E agora que sou eu, tão sacro e santo

pendurado num altar, com cara de manso

fico a lembrar das chuvas e dos negros pássaros

que por todas as florestas me fizeram afagos

e dos ninhos que com galhos protegi...

por ai...

Hoje nu em pelo, sou só anjo

estátua de uma beleza em prantos

a mercê de roubos, loucos ou cupins insanos

e é já sem coragem que me rezam...

e me pedem bençãos

que nem dei a mim.

Márcia Poesia de Sá.

Márcia Poesia de Sá
Enviado por Márcia Poesia de Sá em 16/06/2014
Código do texto: T4847588
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