Deusa de fogo

Pelos verdes bastidores dos prados,

Ao olhar desatento dos que trovam,

O olhar da musa escorre sedento

Sobre os dorsos febris dos garanhões;

Lânguido, calmo e sem alarde.

Ela pinta os lábios sob os olhares de fogo

Que cirandam pelas cercanias;

As planícies estão repletas desses seres

Reluzentes em seus alazões de lata.

O poeta vê tudo à luz do seu desencanto;

Porém, sem pranto; é só dor de poesia;

Enquanto a alma pede amparo.

Não raramente as deusas se dissipam

Feito água pelos vãos das rochas.

São assim; crianças sonhadoras e singelas...

Mas há sempre uma flor em seu olhar

Uma rosa que cresce no deserto do peito.

Os olhos do trovador estão à míngua.

Não quer mais música nem rimas,

Apenas o sabor amargo da língua

No doce beijo que ainda resta.

Em quanto tempo o vulto da doce musa

Apagar-se-á para sempre do seu pensamento?

Quantas dores haverão de se arrastar

Pelos nervos plácidos de quem verseja?

Quando será que um cavalo preto

Um Pégaso negro, pegará o azul infinito

Levando, à galope, todas as coisas sonhadas?

Carlinhos Matogrosso

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 12/07/2014
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