A PRIMAVERA QUE VOS FALO

Não vos falo de pássaros inquietos,

ou seixos ou flores,

sigo minha rota para além dos muros,

vou disperso sobre a relva.

Não vos falo do sol

que ao tocar, definitivamente,

a pele alva da manhã,

revelou a temperatura das fêmeas.

Vestido de lirismo e de alcova,

procuro uma razão

para subverter borboletas que pulsam

a arvore que transpira.

Não vos falo da primavera

didática dos livros,

nem a que visita

os que tardam seu vôo de nuvem.

Falo-vos da primavera

que não possuo

e escorre para a mansidão

solícita de uma vaga.

Falo-vos de segredos

fugidos das grutas,

falo-vos do hábito

sombrio dos becos.

Das bocas que têm febre

de seus amores

e sede metafísica

de poemas.

Falo-vos, em fim,

da primavera sadia,

recuada no calendário

que não existe mais.

Delmo Biuford
Enviado por Delmo Biuford em 15/05/2007
Código do texto: T488393