MUROS
Meu avô
gostava de descansar na rede,
de onde fazia mágicas com a fumaça
de seu palheiro,
pedia água
quando tinha sede
e, de tempo em tempo, baforava
algum conselho.
Minha mãe
costurou roupas para um lázaro,
que escondeu suas chagas
com as belas vestes;
ao tentar andar
pelas cidades dos pássaros pretos,
foi-lhe descoberta as omissas
pestes.
Meu amor
pediu para decifrar o segredo das nuvens
que bailavam enigmaticamente
aos céus;
quando eu disse
que desenhavam nossos sonhos,
esbugalhou-se com grande
desdenho
e se foi sorrindo,
a regar as frágeis flores
de nosso jardim
rupestre.
Péricles Alves de Oliveira