Alma torta
Entre os olhos fitados
O doce contato furioso expressado,
pela ausência da submissão,
do silêncio moribundo, passivo
As palavras se misturam
As línguas serpenteiam entrelaçadas
pela arrepiada pele grudada,
de suor, de linguagem muda
A fumaça turva vai subindo
As raízes brotam do asfalto quente
Germina-se o novo nessa dança
e deste novo, dentes são criados
De novo o banquete
não bate na barriga com fartura
E as carnes desordenam, violentam
Tempo nu desnudando necessidades, falsas caridades
Almas cinzas buscam salvação
Trafegam entre linhas retas, previsíveis
Seguros dentro de um aquário navegam
Vida forçada como numa trama das nove
Paixões escondidas, racionalismo do umbigo
O paraíso é prometido
e distantes do pecado
Bens de consumo são glorificados
Corpos atrelados apelam, rasgam cicatrizes
Movimentos que arrebentam
Mangas que se arregaçam
Brucutus que atropelam vozes subnutridas, versivas
Gota que pinga no teto
Deserto de signos
Vai-e-vem, vem-e-vai, fode, divide, classifica
Seres estagnados não regam afetos
O lado é fruto da contradição
E no seio do teu ser,
Toda torta a alma queima,
Entorta um pedacinho de mundo
Terra que geme no manto da noite
Natureza que goza sobrevivência.