ESTERNO

É com os dedos delicados de reserva

que asseguras o pulsar no teu esterno

tão secreto e tão bem cuidado

quase, quase, quase indecifrável

não fosse essa calma de ensaio

e esses olhos moles, moles, moles

afogados numa espera eterna

- eterna, eterna e terna espera -

por quem partiu em suave desaviso

e numa dessas noites de lua adversa

seguindo os passos das dúvidas certas

levou sua sombra, deixando úmidos rastros:

um poema manuscrito e inacabado,

o vento solícito dos desassossegados,

o pó suspenso e irritadiço da saudade

e o caos instaurado no canto esquerdo

- que o teu externo quase bem disfarça -

ESTERNO - Lena Ferreira - nov.14