REDORMIR

Dormirei nos teus braços

como quem descansa em paz;

despido dos meus cansaços,

esquecido dos meus ais.

Sorrirei para a lua,

rirei do sol

ao mirar a face tua

quando o peixe escapa do anzol.

Serei eu uma lembrança

que o tempo consome?

Sim! Entrarei de vez naquela dança

dos que vivem sem um nome.

A memória é curta

e o espaço é vasto;

nada posso contra o tempo que me furta

até aquilo que não gasto.

Mais de duas da madrugada...

A cidade dorme quase inteira

e eu de lâmpada apagada

com a nuca na cabeceira.

Vou tentar o redormir

se é que este verbo existe

ou então me redimir

do meu vocabulário pobre e triste.