CÂNTICO
O silêncio sibila qual tiro na sala,
a solidão dá asa às cobras dos sonhos,
tambores nas calhas, seus dedos de chumbo
gemem feito vermes no bordão das harpas.
A palavra tem vida e dá vida as pedras,
papéis manuscritos, um cenário avesso,
tecido em nuvens no rumor da chuva
que nutrem o verso úmido e o frio das facas.
Imagem, vertigem
idéia em movimento,
palavra acesa
e o portão sem trincos...
Eu e a poesia num visor complexo,
eu e o silêncio antecedendo o salto,
eu e a palavra que deforma a fala
diante do espelho da visão dos magos.
Tenho a aquarela em fogos de artifício
a simular na alma a morte das estrelas,
o coração das rocha, mas uma leveza,
vôo além do espaço e quiçá, mais alto.
Imagem vertigem
idéia em movimento,
palavra acesa
e o portão sem trincos...
É preciso, às vezes, construir
como se esculpisse no invisível
imagens de fumaça
que atém na vertigem
a ideia pagã.
Há uma fonte de luz
nos delírios febris,
nas palavras tropéis,
abrindo túneis nos sonhos.