Fofoca de bairro pequeno

O coitadinho nunca imaginou

que depois de maduro, quase idoso,

casado, vacinado e calejado,

viveria uma grande paixão.

E ele sossegado no seu canto

e vem essa tal de paixão,

como numa implosão,

abalando as estruturas.

Que loucura!

Ela é casada, a danada,

mas o que é que tem isso demais

nos dias de hoje.

Mas pensam elas,

que o gato na janela é marrom.

Ele não tem tom

e não é tão mal assim

quanto parece.

Não demorou muito para perceber

que a conversa era sobre uma série de TV,

daquelas picantes que abordam a traição,

cuja tônica, como sempre,

é o desgaste entre os casais,

que criam os filhos sob as suas expectativas,

criando também suas próprias perspectivas,

mas crescem rápido demais,

assim como o rio corre ligeiro para o mar

e ao encontrar o mar as águas se misturam

e quase sempre vai-se a ternura

e os bobos em casa,

um olhando para a cara do outro.

Olhos fixos no jornal

e a mulher de olhos fixos na panela,

quando não está na janela,

pensando talvez no que não fez

ou no que possa ter feito de errado.

O convívio do mudo com o calado,

quando dançar de rostos colados,

ah, isso é coisa do passado.

Por isso o seriado sugere que os casais,

de quando em vez,

tirem férias conjugais.

Amigo leitor, colega escritor,

saibam que quem criou

essa maravilha chamada de metáfora,

o fez para que ela fosse usada

e eu a usei e continuo,

incondicionalmente não acreditando

no incondicional.

o fez para que ela fosse usada

rodriguescapixaba
Enviado por rodriguescapixaba em 25/11/2015
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