Cenas De Um Paraíso Artificial

Andou nua.

Procurou-se em mundos diversos.

Olhos fechados. Corpo aberto.

Estrelas e olhos confundiam-se

e era dia. A cara era lua

e a lua corria.

Também búfalos corriam

pelo chão áspero de ervas pisadas, sanguíneas.

A terra era vermelha

e fendida.

As raízes, sem corpo,

encontravam-se entre água e massa corrida.

O fogo queimava

dentro e fora.

Os corpos

tocavam-se,

explodiam-se

em um ritmo

controverso

e

abstrato.

O estranho ritmo

do mito dionísico.

O extremo circuíto animal,

demente, do correr,

selvagemente, para

a noite não concretizou-se

no esqueleto de cristal.

Lagos congelados

eram camas de pardais

e rinocerontes que se marcavam de batom.

Talento foi acender o cigarro

sem pegar fogo.

A combustão era interna

e inebriava. Dilatava as veias

para um correr mais liberto.

Dominava os céus

e as pedram rolavam

para o leito do rio

ou da janela. Diversos cometas.

Era a obra de arte espacial

dilacerando a obra de arte primata.

Deserto de areia e calcário

que suporta os pés

calosos e os sonhos.

Sonhos do espírito,

não da matéria.

Mulher e mulher

aninhadas mutualmente

no mútuo, uno,

corpo estigmatizado.

Psicodélicas. Delirantes.

Dilaceração do espaço ocupado pela amante.

O couro provoca

e somente o beijo seduz.

Não.

Não quero.

Não quero mais ver

o que emana

de sua doce carne jovem,

irresistível carne podre.

Jardel Rodrigues Ferreira
Enviado por Jardel Rodrigues Ferreira em 05/12/2015
Reeditado em 03/02/2017
Código do texto: T5470876
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