A minha solidão e eu

Adoro os meus instantes a sós

comigo mesmo.

A meditação, a introspecção,

quando ninguém interfere,

nem para o bem e nem para o mal.

O carnaval é um aglomerado

e o que eu prefiro é ficar sossegado,

dentro do meu baú,

com os meus segredos,

com o meu código pessoal de acesso,

como cada um procede com o seu baú.

Todo solitário é estranho

e todo estranho é solitário.

Segredos inconfessáveis

e alguns de arrepiar os cabelos,

como aquele novelo de linha,

para quem pinta e borda

ou como a corda no velho relógio.

Mas, afinal, que horas são?

Tem poeira também nesse baú,

pés descalços e tênis herdados do irmão mais velho,

ainda de calças curtas, nas idas e vindas

da antiga escola.

Tem missas e sermões,

frustrações e sucessos,

dificuldades que a bem da verdade,

nunca atrapalharam e sim ajudaram

a me tornar um homem de bem.

Tem pecados de adolescente,

como as visitas à casa das moças bondosas,

algumas graciosas, nas primeiras lições de sexo,

pois quem abusava das meninas de família,

fatalmente se casavam com o delegado.

Quantas histórias dentro desse baú.

Irmãos, apenas dez e bons,

que influenciaram diretamente

na minha formação.

Amigos, aos montes

e ídolos, um bocado.

A esperança também estava lá,

mas por ser muito volátil,

se dissipou feito neblina.

A minha esposa,

que eu sempre quis que fosse minha amiga,

mas sinceramente confesso,

que não sei se consegui.

Mais dividi que somei,

mas eu sei não ser da minha natureza,

compreender a extensão das exatas.

Lembranças chatas também estão ali guardadas.

Colatina toda está nesse baú

e como eu tive uma infância feliz.

Os meus amores,

intocáveis e invioláveis,

apesar de não tê-las amado,

mais que aos meus filhos,

que não são mais meninos,

mas são as recordações de quando meninos,

que estão lá, nesse meu baú.

Solidão não significa depressão,

exatamente,

está mais para o estado de espírito,

é empírico isso e um tanto quanto inexplicável,

mas ao longo da vida percebi,

que são várias as questões sem respostas

e que tentar compreender a nós mesmos,

já é responsabilidade por demais.

"Eu quero a paz de criança dormindo..."

Dolores Duran