É MADRUGADA

É madrugada

Não consigo dormir

Meus olhos se fecham

E acordado, lembro-me de você

E num instante estás ao meu lado

Dizendo palavras sutis

Fazendo poesia em meus lábios

Com os beijos que me ofereceu

É madrugada

A coruja no galho curvado, molhado pelo orvalho,

Ouriça seus olhos hirtos de ressaca

E me olha profundamente

Rasga-me a alma

Num arrepio e tremor

Os pássaros não adejam

Os cantos não inflamam,

Os chamejantes e rútilos brios do meu amor

Meu amor?

Ah, o que é amor?

Deitas ao relento

Pois é madrugada

Uma garota sonhando paixões

Pois é madrugada

E às vezes acorda e se lembra de mim

Visto que é madrugada

E eu me perco num frenesi, num delírio louco

Aconchego-me aos braços da aurora

Vou esperar todo o alvorecer...

Aguardando o dia clarear

Quando despertam os lírios no campo

Quando o Sol se despede da Lua

Quando a brisa exala orgulhosa e em volúpia

O eflúvio das flores nas montanhas

Nas campinas do meu coração

E tudo se passa e eu me calo

Silente, a observar-me afora, sozinho a escrever

E a dizer que a madrugada

Penetra nos espectros becos soturnos

Nos ciprestes e cinéreos caminhos,

Nas ruas da minha solidão

E na esquina de amor eu te encontro

Você me observa, misteriosa

Te tomo em meus braços e me alimento da tua paixão

Mas você sorri e se despede

Desesperado grito noite adentro

Ah! Hirto alvedrio do meu amor...

Eu não sei seguir os teus passos etéreos

Está escuro ainda

Sim.

É madrugada...

jairomellis
Enviado por jairomellis em 12/07/2007
Código do texto: T561604
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