É MADRUGADA
É madrugada
Não consigo dormir
Meus olhos se fecham
E acordado, lembro-me de você
E num instante estás ao meu lado
Dizendo palavras sutis
Fazendo poesia em meus lábios
Com os beijos que me ofereceu
É madrugada
A coruja no galho curvado, molhado pelo orvalho,
Ouriça seus olhos hirtos de ressaca
E me olha profundamente
Rasga-me a alma
Num arrepio e tremor
Os pássaros não adejam
Os cantos não inflamam,
Os chamejantes e rútilos brios do meu amor
Meu amor?
Ah, o que é amor?
Deitas ao relento
Pois é madrugada
Uma garota sonhando paixões
Pois é madrugada
E às vezes acorda e se lembra de mim
Visto que é madrugada
E eu me perco num frenesi, num delírio louco
Aconchego-me aos braços da aurora
Vou esperar todo o alvorecer...
Aguardando o dia clarear
Quando despertam os lírios no campo
Quando o Sol se despede da Lua
Quando a brisa exala orgulhosa e em volúpia
O eflúvio das flores nas montanhas
Nas campinas do meu coração
E tudo se passa e eu me calo
Silente, a observar-me afora, sozinho a escrever
E a dizer que a madrugada
Penetra nos espectros becos soturnos
Nos ciprestes e cinéreos caminhos,
Nas ruas da minha solidão
E na esquina de amor eu te encontro
Você me observa, misteriosa
Te tomo em meus braços e me alimento da tua paixão
Mas você sorri e se despede
Desesperado grito noite adentro
Ah! Hirto alvedrio do meu amor...
Eu não sei seguir os teus passos etéreos
Está escuro ainda
Sim.
É madrugada...