Quem de nós já teve tudo o que quis?

Ser totalmente feliz,

não ter nunca meleca no nariz,

ser aprendiz de feiticeiro

e praticar o feitiço contra a mulher amada,

comer goiabada com queijo,

original das Minas Gerais,

roubar um beijo daquela atriz,

ter dinheiro só para sonhar e viajar.

Uma vida boa,

sem patrão e sem patroa,

uma cama, uma rede e uma esteira,

com mucamas em revezamento.

Deus no firmamento

e uma vida inteira para viver.

Ter filhos e vê-los crescer saudáveis,

em porte e espírito,

não importando as suas sexualidades

e sim as suas qualidades,

como seres do bem.

Ter sempre saúde e sabedoria,

como um dia todos nós desejamos.

Quem de nós já teve tudo o que quis:

um quadro de giz e uma linda professora,

aprender com a vida e com os erros,

comemorar os sucessos

e que fossem bem mais que os nossos fracassos.

Não ter nenhum laço, nenhum cabresto,

ser livre, leve e solto

e também não aprisionar ninguém.

Respirar a neblina da cachoeira,

o vento do litoral,

ser animal e racional,

de acordo com as circunstâncias,

mas jamais para provocar o mal.

Que nada fosse sempre igual,

mas que um dia fosse melhor que o outro,

para nós e para os outros,

pois é impossível ser feliz sozinho.

Que o impossível não existisse

e que não tivéssemos os limites,

delimitados por quem não quer

nos ver crescer.

Que não houvesse inveja, ciúme

e que o cume dos nossos desejos

fossem muito além dos céus.

Mordomo, empregadas,

a cama arrumada, nessa chatice,

que deve ser a velhice.

Mal de alzheimer, parkinson

e a impossibilidade de tudo,

mas como fugir dela sem desistir.

Mas, foi de fato feliz, quem teve tudo o que quis?