À RIMBAUD

Pensei ter visto minha alma uma única vez

Foi quando o silencio fecundava o corpo imenso da lua

Ao lado de minha janela

Num momento de entorpecimento, ao largo de uma estação enferma

A noite era deveras fria, a madeira estalava na lareira com preguiça

E minha consciência bêbada, pairava no ar cor de cobre, sem destino

Enredado em mim, eu tecia pensamentos misturados,

Sobre o Deus, as impossibilidades e os nós da vida

Nestes lapsos, em que o chão se abre a nossa frente e não damos conta disso

Porque estamos amortecidos, com o coração voando em outras dimensões,

Debulhamos, furtivamente lágrimas para o mundo, porque a mente descompensada, procura refúgio nas clareiras, enquanto o corpo indefeso apenas treme,

Neste instante, dá-se o estado de latência, da semiconsciência ou da letargia.

Nesta condição, semi adormecimento,

Vi um vulto

Era um jovem que acenou para mim

Sorridente e agitado

Achei que era minha própria alma

Mas ele acenou-me de novo e percebi que não

Ele então me disse com voz rouca e um pouco triste, em francês:

Je m'offrais au soleil, dieu de feu

Ensuite, je découvris que le soleil était pas éternel,

Mais l'âme et les rêves

Maintenant, je veux juste vivre mes rêves, mes rêves,

Rien de plus!

Então ele sumiu

Mas logo reconheci aquele rosto adolescente e febril

Aqueles olhos verdes e seus lábios de profeta

Sim era Rimbaud!....Ele esteve ali !!

Contudo, não me perturbei

Achei bonita sua citação de se oferecer ao sol,

O Deus do fogo!

Fechei os olhos e concordei com ele,

Que mesmo o sol não seja eterno, a alma e os sonhos são

E como ele, também, de agora em diante,

Só irei habitar os meus sonhos,

Habitar só os meus sonhos

E nada mais!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 06/07/2016
Reeditado em 17/02/2024
Código do texto: T5689334
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