Carnagens

Houve um tempo, um tempo em névoas

Um tempo em que a vida respirava morte

Na brisa da manhã, lançava-me ao campo

Esperança, única proibição

Corvos e abutres, única exaltação

Sem tempo para o amor

Abominando prazeres e ilusões

Abraçando tão-só o que fica, a dor

As areias do tempo transportam a maldição

Horrores e fumaça colorem a desolação

Um rei fica à deriva, perecem seus corsários

Seus generais a cobrir o flanco leste

Clamam em desespero, ávidos por mercenários

Outrora déspota, agora escondido sob mantas

Mais não marcha, impassível sobre indefesos e crianças

É já tarde para rever o capital pecado

É já tarde para o recurso ao condenado

Sem remorso, sem piedade, é hora da verdade

Sem perdão, sem remissão, é hora da igualdade

Descem ao rubro vale demoníacas hordas

Ao pior do Criador derrubam-se as portas

O mesmo é o tilintar das moedas:

Das carícias da prostituta

Ao punho desferindo o aço

Pois o dinheiro ri da necessidade do pobre

Assim como beija a satisfação do rico

Mais carne, então produzamos!

- Carne, eis o vil alimento da guerra

- Sangue, eis apenas o que temos

Variados são os caminhos

Uma dívida sempre a se pagar

Das chamas de Moloque

Às águas do batismo

E somente a perdição a se alcançar

Isaque
Enviado por Isaque em 10/09/2016
Reeditado em 11/09/2016
Código do texto: T5756217
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