O encontro das almas

Eu apenas queria aquela borboleta.

Sou só colecionador de olhares,

coisa cada vez mais rara,

como o encontro das almas.

A borboleta, de uma beleza perfeita,

que veio da lagarta,

um ser nem um pouco encantador,

mas é na metamorfose que está a magia.

A enguia também desprende energia,

sem estar conectada a nenhuma tomada

e nem é bela como aquela borboleta,

mas o encanto está no que se olha

e no jeito de se olhar.

Uma borboleta no décimo andar,

na samambaia, na varanda, na praia,

no meu jardim, mas ai de mim (!),

que não sou colecionador.

Também não sei colecionar dor.

A mesma dor que deve sentir a lagarta,

ao tentar se livrar do casulo,

para então soltar suas asas...e voar.

Mas onde não há dor em nossas vidas,

se ao tentarmos voar, quase sempre quebramos a cara?

A liberdade é por demais cara,

mas a lagarta não questiona o preço

pois o seu objetivo é não mais rastejar.

A lagarta só não pode ser cega,

senão a borboleta dependerá do tato

e cego é o morcego, que tato nenhum tem,

devorando suas presas, sem poesia alguma.

Borboleta alguma devia morrer.