Memórias de uma infidelidade natural

Ao longo dessa existência,

com persistência e com insistência,

poucas mulheres me impressionaram

e das que me impressionaram,

bem poucas comigo se deitaram.

Quando se valoriza por demais o sexo,

o amor se transforma numa coisa sem nexo,

quando o ideal é o equilíbrio,

como não ter um quintal vazio.

O frio é de uma sensação muito ruim,

mas o pior é quando atinge a alma,

pois aí não há agasalho que resolva.

Que chova e que a chuva inunde

e que abunde a natureza ao redor,

pois é melhor estar só,

do que enxergar vantagens em tudo

ou não ver vantagens em nada.

A primeira impressão não é a que fica

e o que nos dignifica,

é valorizar quem conosco está

e estando, ficando, vamos assim levando,

mas de preferência nunca se consolando

num colo só.

É de dar dó,

mas ao longo dessa curta existência,

haja vista que as tartarugas vivem mais do que nós,

beber num só bebedouro,

ter um só signo e não passar pelo de touro,

ser condenado a um par de antolhos,

com tanta beleza ao redor.

Podemos, sim, ser fiéis e nos divertir,

sem as leis das convenções,

abrindo portões e fechando portas,

janelas sem tramelas e comportas sem trincos.

Um brinco, uma aliança -tudo joia,

mas o que a vida não apoia, nem suporta,

é sermos fieis somente por formação.

Só as baleias o são,

mas aí é uma questão de instinto.