Em um ocaso mudo

Me separa de ti a rosa de um crepúsculo

Oh! se pudesse vir no dorso do vento

apenas uma nuvem, uma ligeira nuvem

e a mim descesse a aurora de teu gesto.

Porque não sorris imperceptivelmente?

Tão fácil é sorrir e ser feliz

a aurora é formosa, porém és a aurora

e a vida é tão dura sem a razão de ser.

Quero tecer grinaldas em teu colo desnudo

tecer sutís auras de carícias perdidas

despertar o intacto mistério de teus beijos

e dormir em teu peito o sono da inocência.

Apenas nos separa uma sílaba breve

se por fim a arrancas como uma pétala viva

e em mim a jogas, oh! corola murcha

fôlha morta de sede, no espaço imenso.

Ah! não ilumines mais neste mudo ocaso

sem palavras, sem vida, sem amor e dor

que o anjo acompanhe o teu sorriso breve.

Me separa de ti a rosa de um crepúsculo.

Rui Garcia