Subsistência

No sacrossanto templo que é meu corpo

após exéquias tristonhas e enfadonhas

e em lá menor um réquiem oficiado

dá-se um banquete de mim em despedida!

Eu sou servido aos decompositores

em meio a flores – cravos e jasmins!

O tempo passa e eu volto à forma pura.

Em relva verde me espalho na colina

deixando à terra um vasto relicário...

E me rumina a vaca – outro repasto!

Eu alimento o mundo! É minha sina

de volta ao solo em forma de excremento!

Mas outra parte etérea de mim mesmo

caminha a esmo, livre da matéria!

Eu sou lembrança, amor, dor e saudade.

Retrato amarelado na parede

enquanto a sede de vida me amortalha

eu, morto, assombro a própria eternidade...

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 16/10/2005
Código do texto: T60240