Encarcerado
Aquém dos muros é meu refúgio e minha prisão
ou a solerte ilusão – subterfúgio meu
em parecer inerte e morto...
É no desconforto do cárcere que me invade
e me toma a alma de um Sade sem correntes
e me aguilhoa a disputa insana
de mil mentes em minha mente...
Eu rio, choro, grito e me apavoro
e eu mesmo me devoro sem dentes e sem boca.
Autófago eu me consumo e me esvaio
massacrado e mascado feito fumo
no fundo frio e fétido
da escura prisão de minha escolha...
A luz teima em entrar nalguma fresta
mas pouco resta para ver do que me sobra
e como cobra rastejo – eu vejo em quê me transmudo
e mudo permaneço prisioneiro
açoitado, sangrando – mas me reconheço
como meu próprio carcereiro que escarnece...
Sou eu próprio quem desce e me visita
quando meu outro eu me grita...