Encarcerado

Aquém dos muros é meu refúgio e minha prisão

ou a solerte ilusão – subterfúgio meu

em parecer inerte e morto...

É no desconforto do cárcere que me invade

e me toma a alma de um Sade sem correntes

e me aguilhoa a disputa insana

de mil mentes em minha mente...

Eu rio, choro, grito e me apavoro

e eu mesmo me devoro sem dentes e sem boca.

Autófago eu me consumo e me esvaio

massacrado e mascado feito fumo

no fundo frio e fétido

da escura prisão de minha escolha...

A luz teima em entrar nalguma fresta

mas pouco resta para ver do que me sobra

e como cobra rastejo – eu vejo em quê me transmudo

e mudo permaneço prisioneiro

açoitado, sangrando – mas me reconheço

como meu próprio carcereiro que escarnece...

Sou eu próprio quem desce e me visita

quando meu outro eu me grita...

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 18/10/2005
Código do texto: T60696