Nós honramos nossos pais

São palavras de alguém

nascido as margens do rio doce,

interior do estado do Espírito Santo,

mas que bem poderia ser de qualquer interior,

por esse imenso país,

pelas praias, caatingas, matas, serrados,

recôncavos, chapadas e planaltos,

repletos de exemplos a serem copiados,

assim como também daqueles que devem ser ignorados.

Ele ainda é pela palavra empenhada,

da camisa suada, costas surradas,

educado pelo trabalho

e tendo como melhor companheira a dona Dignidade.

Mas também é um ser em extinção,

tentando transmitir -e as vezes em vão, seus ensinamentos,

mas que lástima: a escola fechou!

Poderíamos chamá-lo de Honorino, Vitorino,

Felisbino, Amoroso, Amorino,

mas ele não quer nenhum desses títulos,

pois anda meio desapontado, decepcionado,

desde que o samurai alugou sua espada.

Ele também contava muito

com que seu herdeiro o substituísse,

nessa competição pela vida, pelo pão,

como numa corrida de revezamento,

onde pudesse passar o seu bastão,

mas seus filhos não fazem questão,

preferindo as batalhas virtuais,

situações surreais,

onde os pais são meros figurantes,

mas o xis da questão está na criação,

quando se esforçaram para que eles não passassem

por tudo aquilo por que passaram,

como se fosse possível, meu Deus,

à zebra, em plena savana,

fugir para sempre das garras do leão.

Mas, lembra-se que o samurai alugou sua espada?

Então, adeus pátria amada, adeus amor próprio e

adeus dignidade, desde o dia em que a felicidade,

marcou conosco e não compareceu.

Não há mais seguimento para os guerreiros,

nessa dinastia que protegia os bons,

em defesa dos fracos e incompreendidos,

desde que a proteção excessiva

levou todos os sonhos e expectativas dessa geração

e não há mais perspectivas de troféus,

pois os clãs se calaram

e quando ainda há discussões,

é com cada um na sua linguagem.

Mas ainda bem que estamos de passagem

e ele poderá não estar mais aqui

quando o castelo de sonhos ruir,

por falta de uma melhor estrutura,

quando se lembrarão -ou não

do tanto que ele os alertou

quanto aos fortes ventos que soprariam do sul.

Já passou da hora do valente samurai recuperar sua espada.