Dança com lobos

Kevin Costner tem a sua parcela de culpa,

nesse novo formato do egoísmo humano,

ao tentar domesticar os lobos selvagens,

quando se sentia solitário e desprotegido,

sob o pretexto de não ter amigos.

É, de fato uma atitude válida,

mas os animais não são mais fiéis,

que um de fato fiel amigo

e o problema de não ter amigos

e do difícil convívio pode estar conosco,

porque, se eles falassem, talvez dissessem,

o quanto erramos e o quanto errados estamos,

mas nos apegamos a eles,

porque eles não nos julgam

e nem nos criticam.

São companheiros "incondicionais",

que não se queixam dos nossos maus hálitos,

maus hábitos, chulés ou roncos,

mas nunca os deixem com fome.

Um animal com fome também come o homem.

Os nossos traumas e frustrações,

descarregados sobre os animais,

tais como o do filho que não tivemos

ou tivemos e o perdemos,

para Deus ou para a vida.

Questões que acreditamos estarem sendo divididas,

mas que continuam reprimidas,

uma vez que somos incapazes de admitir

o nosso lado antissocial

e por isso, simplesmente por isso,

preferimos os conselhos mudos de um animal.

Nós os tratamos como se gente fossem,

uma vez que não gostamos mais de gente,

mas quando gente de fato se tornarem,

procuraremos um outro animal de consolação,

assim como já tentamos com o pobre do papagaio,

até que eles começassem a disparar palavrões,

bem fora dos padrões

e se tornaram também muito antissociais.

É por demais essa dependência humana.

Planos de saúde, lojas especializadas e rações especiais,

roupinhas de bebê ou trajes dos nossos times do coração,

numa traição aos seus próprios instintos

e aos seus sensos de preservação.

Bicho é bicho e têm que ser tratado como tal,

sem maus tratos, é óbvio,

até porque quem apanha todos os dias

só aprenderá a bater e/ou a morder.

É o instinto de defesa.

Se pensarmos que eles são bem melhor tratados

que muitas e muitas crianças

pelas diversas regiões do país,

eu não sei de vocês,

mas eu já me sinto infeliz.

O canário belga do meu avô,

criado em cativeiro, argumentava ele:

não podia mais ser solto,

pois não mais sobreviveria.

Outra cruel distorção e/ou covardia,

minha tia.