Intolerâncias&blasfêmias
Pensei em Deus e parei,
como naquele ponto obrigatório
pela nossa gramática
e meditei: sei porque estudei.
E pensei: sou preto e feio,
meus cabelos não penteio fácil,
a sociedade é implacável
e minha fé não é inabalável.
Meditei e segui usando mais vírgulas,
aquelas pequenas pausas circunstanciais
e findei a oração com uma grande interrogação:
imaginem se além disso tudo, eu ainda fosse também, gay?
A intolerância ao que não é igual,
nos causa a cegueira da ignorância
e ao ofendermos os nossos semelhantes,
desagradamos também a Deus
que me confidenciou também passar por isso,
ao assumir e admitir tantos nomes para ser aceito,
uma vez que toda a responsabilidade é dEle,
que não pode adotar a intolerância também
e que até partidos políticos criaram por ele
e Ele nem sequer é convidado a votar,
mas se votasse, não votaria em si mesmo,
pois é muito importante compartilhar opiniões.
Com a sabedoria indígena, aprender as luas,
com o tato dos cegos, decorar a escuridão,
com a dependência dos que andam se arrastando,
reconhecer que poderemos ser como eles, um dia.
Mão dupla e pista única, existem as duas,
moradores das ruas existem aos tantos,
importantíssimos para valorizarmos ainda mais,
o que consideramos como pouco conforto,
pois o rio não precisa mais que um simples leito,
uma criança não carece de mais de um peito,
desde que o carinho faça parte da sua amamentação
e nenhum sermão nos convencerá daquilo que,
definitivamente não queremos saber.
Aprender com a história e reativar a nossa memória
e reconhecer os méritos, mesmo com as diferenças.
Ninguém é como é por um simples acaso
e como é feio o vaso sem flor alguma.
É preciso preencher o seu vazio,
é urgente preencher o nosso próprio vazio
e nas noites de frio, compartilhar o fogareiro,
enquanto reparamos que no formigueiro
são várias operárias, com apenas um objetivo comum
e como é que um inseto tão miúdo consegue nos inspirar?
Será porque o tamanho é o que menos importa
ou será porque o que mais importa é o respeito mútuo?
O amor não tem sexo, nacionalidade ou idade,
não tem também puberdade, pois já nasce maduro
e sobrevive muito bem no escuro,
pois está em paz com os iguais e os desiguais
e que doa a dor, pois foi para isso que ela foi feita,
mas não praticar a dor porque ela não é perfeita,
mas admitamos que as suas consequências nos faz evita-la,
mas, o que dói em mim, não doerá no outro...
por quê?
A tolerância vem com o amadurecimento,
o sofrimento não tem raça e nem ideologia
e quem sabe um dia nos libertemos dessas bobagens,
tendo mais coragem para simplesmente AMAR.
O bem, o mal e as suas simbologias
e ambos à sua escolha, mas lembre-se que,
enquanto um é o perdão, o outro é o castigo,
mas sabia que eles podem ser amigos?